“Guantánamo é
um punhal no coração dos cubanos”, afirma Hernando Ospina
Todo Guatánamo es nuestro - legendado
"Guantánamo é o símbolo da injustiça e do abuso, e deve ser fechada" Anistia Internacional
“A manutenção da Base Naval da Baía de Guantánamo não
encontra amparo em nenhuma convenção internacional e, por isto, não há como
fiscalizar o que acontece em seu interior. Os presos muitas vezes não possuem
os direitos de consultar advogados, visitas ou até mesmo de um julgamento.
Existem denúncias de tortura. Os Estados Unidos não permitem que a ONU
inspecione as condições da base e do tratamento recebido pelos prisioneiros.” (Canal Ser voz - Youtube)
Segundo diretor de “Todo
Guantánamo é nosso”, base militar em Cuba serve como recordação de que os EUA
está por perto
Mariana Pitasse
_Brasil
de Fato | Rio de Janeiro (RJ), 08 de Dezembro de 2016
Na
última segunda-feira (5), aconteceu o lançamento oficial do documentário “Todo
Guantánamo é nosso” no Brasil. O filme, dirigido por Hernando Calvo Ospina,
trata sobre Guantánamo a partir das falas dos cubanos que moram perto da
fronteira da base militar norte-americana em Cuba. A sessão de estreia lotou o
cineclube Silvio Tendler, no Museu da República, no Catete. A atividade foi
realizada pelo Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Rio de Janeiro.
Após a sessão, o Brasil
de Fato conversou com o diretor Hernando Ospina,
jornalista e escritor colombiano, refugiado político na França. Atualmente é
colaborador do jornal Le Monde Diplomatique e
não pode voltar a seu país, por conta das ameaças de morte que recebeu depois
de publicar o livro “Terrorismo de Estado na Colômbia”.
Brasil de Fato – Quais foram as suas
principais motivações para fazer um documentário sobre Guantánamo?
Hernando – Conheço
Cuba e sua revolução há muitos anos. Porém, há uns dois anos, me dei conta de
que Cuba tinha uma fronteira terrestre com os Estados Unidos. Foi como uma
grande descoberta. Pode parecer bobo, mas foi assim. Então, quis saber o que
pensam e como vivem os cubanos que moram perto dessa fronteira. Não foi
necessário procurar figuras como Fidel, Raul Castro ou altos dirigentes para
que me explicassem essa situação: em cada dia de filmagem os cidadãos me diziam
tudo, com palavras muito simples.
Brasil de Fato – O que mais chamou sua atenção
no discurso dos cubanos que você conversou sobre Guantánamo?
Há
alguns anos, os cubanos que vivem nessa zona fronteiriça, convivem com a base
militar. Já é parte da “paisagem”. Eles sabem que lá estão os militares
estadunidenses e, por isso, assumem como algo quase normal da vida diária. Mas,
quando são perguntados, todos respondem que esse território é cubano e deve
voltar a Cuba. É unânime. Porém, não existe nenhuma atitude agressiva dos
cubanos em direção à base, nem em palavras e menos ainda em ações.
Brasil de Fato – Aconteceu alguma mudança
neste cenário, representado no documentário, depois da aproximação dos EUA e
Cuba?
Respondo
de forma direta: nesta aproximação diplomática, EUA aceitou falar de tudo,
tudo, menos do retorno do território ilegalmente ocupado de Guantánamo à Cuba.
Isso, Washington não permitiu na agenda de negociações. Foi a única coisa.
Brasil de Fato – E o que você pensa do
processo de aproximação depois da eleição de Donald Trump?
O
próximo presidente fez uma fala muito dura contra Cuba há pouco tempo, e contra
o processo de aproximação iniciado pelo presidente Obama. Porém, há interesses
políticos e econômicos que ele não pode desconhecer. Assim disse a ele a Casa
Branca, há 15 dias. Esperemos que o processo de aproximação continue.
Brasil de Fato – Em sua opinião, como ficará
Guantánamo com Trump como presidente dos EUA?
Se
com o presidente Barack Obama, discutir sobre a recuperação de Guantánamo para
os cubanos não foi aceito nas negociações, imagino que com Donald Trump isso
continuará. Essa base não é estratégica para os Estados Unidos, e quase foi
convertida em uma base de descanso para seus oficiais que participam de guerras
no Oriente Médio. Porém, serve como recordação à Cuba e à revolução que eles
estão por perto. Por isso, tornou-se um “punhal no coração dos cubanos”, como
eles mesmos diziam para mim.
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